Wednesday 8 July 2009

Cidade China




















Passavam três minutos das sete quando entrou num escritório uma mulher que não era, diga-se, uma mulher qualquer. Na gíria, diria tratar-se de uma tipa na posse de um trombil que muito deixa a desejar, mas que para Joaquim Guita - detective privado -marcha. Como ele diz frequentemente, «mete-se-lhe um saco na cabeça e já está». Não me lembro de conhecer um homem com tão pouca esquisitice no que diz respeito a mulheres. Se Marinho Pinto tivesse pipi, aposto que não lhe escapava. Há quase vinte anos que aqui trabalho e sempre foi assim. Recordo, em diversas ocasiões, ter ouvido os mais variados e curiosos piropos atirados da janela do seu escritório, enquanto tirava catotas. «Ó estrela queres cometa?» e «com um cu desses ias cagar lá a casa» eram alguns deles. Se não tivesse dado em detective privado especialista na investigação de adultério, certamente Joaquim Guita teria dado um trolha dos melhores, daqueles que come os tremoços com casca e tudo.

Como dizia eu, entrou no escritório uma mulher, na casa dos 40 anos, que de costas me parecia bastante um bisonte. Tinha eu acabado de acender um charuto na varanda do meu cubículo quando ela entrou, de rompante, poluindo o ar com um aroma que ou muito me engano, ou se tratava daquele incenso dos chineses. Sem descurar os chineses, é claro, que o Joaquim não gosta que se diga mal dessa malta, até porque teve uma breve paixoneta por uma chinesa algures nos anos 90 que lhe partiu o coração. Joaquim veio a descobrir que esta senhora não era afinal do sexo feminino mas tratava-se antes de um transexual, ou como diz o povo, uma mulher com brinde. Não recuperou deste trauma. Não por ela (ele?) ser um transexual, mas porque lhe roubou a carteira onde ele tinha guardado um boletim premiado do Totobola. Há coisas que não se fazem a um homem. Seja como for, esta sirigaita de trombas amassadas que acaba de entrar no escritório diz que suspeita que o marido lhe anda a colocar os palitos. Joaquim não se admira.
«Casos destes tenho eu aqui todos os dias, minha agradável tronga - constata Joaquim - Se fosses mulherzinha e fosses chatear os cornos a quem te pariu é que tinhas juizinho.»
A mulher não se fica, e responde-lhe à letra.
«Oiça meu badameco de meia-tijela, não é tarde nem é cedo, vou fazer queixa às autoridades competentes!»
«Tu podes é ir à merda com um balde ou então vires aqui debaixo da secretária com essa tromba que parece que ficou presa num passe-vite e mamares aqui na minha pi**!»

A delicadeza nunca fora o forte de Joaquim Guita. Há quem, inclusive, o defina como uma besta do car****. Quem diz isto não se encontra completamente errado. Posso afirmar, no entanto, que Joaquim possui grande beleza interior - facto que comprovei em Setembro passado quando este se encontrava embriagado e caiu das escadas abaixo, fazendo uma fractura exposta. Bonitos ossos que o homem tem. No fundo, Joaquim é boa pessoa - um ser humano único. Pelo menos, é a única pessoa que conheço que come sandes de feijoada. Ao pequeno-almoço.

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