Thursday 23 April 2009

Cada Macaco No Seu Galho

























Grande parte das pessoas, pelo menos uma vez na vida, já visitou o jardim zoológico. E normalmente não o fazem mais nenhuma vez, pois como no circo, as atracções são escassas e repetitivas. Não que eu não goste de bicharada, atenção - tenho é a plena noção de que os bilhetes são muito caros e que se quero ver animais em acção tenho o debate quinzenal na Assembleia da República. Mas claro, como em tudo, há excepções.

Uma delas é decerto o caso do singularmente idiota Reinaldo Matias, contabilista de profissão que todos os fins-de-semana leva o seu filho Tó Mané a um passeio no Jardim Zoológico, em parte porque é parvo. Reinaldo, como não devem estar a par, teve uma infância difícil. Logo ao nascer a sua mãe biológica, porque o achou com cara de quem tem autismo, meteu-o num cesto de compras e mandou-o rio Tejo abaixo. O cesto, esse, acabou por se afundar, ao contrário de Reinaldo, que teve a sorte de ser transportado por uma fataça em salutares pulos até à margem pertinho de Alpiarça, onde se encontrou brevemente com uma embalagem de asticot. Poucos dias depois, não sei se por sorte se por azar, foi encontrado por um bando de selvagens sopinhas-de-massa desempregados e que se entretinham a comer rótulos de garrafas de trinaranjus.

Estes adoptaram-no, compraram-lhe peças de roupa no Fabio Lucci e mandaram-no à vida dele porque também acharam que ele tinha cara de quem é autista. Seja como for, poderia estar aqui três horas a falar da adolescência de Reinaldo e de como enfrentou dilemas imensos, como cortar ou não o ridículo buço que se tinha alojado acima do lábio superior quando o matulão da escola, o Bolas, o tinha avisado que se ele o rapasse à gilete aquilo acabaria por crescer com mais força, mas não valeria muito a pena.

A primeira visita à Aldeia dos Macacos é sempre marcante. Nela acabamos por constatar não apenas que Charles Darwin estava correcto como os saguins são, tal como nós, gente muito pouco civilizada. Reinaldo fica sempre aparvalhado quando vai ao zoológico e vê seres de inteligência superior a ele mesmo.
"Que regabofe", gargalha Reinaldo, enquanto leva com uma casca de banana em cheio nas trombas. E enquanto Reinaldo se encontra ensimesmado com este pedacinho de civilização macacal, o seu pequeno filho Tó Mané decide tomar a liberdade de ir ao poço dos crocodilos resgatar um pacote de sugus de ananás que deixara cair.

Mas como já a tribo suméria dos Garamukhsarabandpipicocó havia salientado e bem, rir das coisas que um símio faz traz sempre consequências imprevisíveis à vida de um ser humano. Reinaldo viria a descobrir isso da pior forma na segunda-feira seguinte, quando acabado de chegar ao trabalho repara que - depois de na sexta-feira ter faltado sem aviso prévio - tinha sido prontamente substituído por um novo contabilista, mais precisamente um babuíno de doze anos da Baixa da Banheira que tinha todos os álbuns dos Onda Choc, só que os comeu.

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