Friday 29 July 2011

Agostinho Bacalhau de Virilha Assada

Crescera numa comunidade rural do interior do país no início dos anos dezavinte, onde era nauseabundo o cheiro a estrume, incesto e analfabetismo. Filho de pessoas pobres, que compravam um par de sapatos de dez em dez anos e nunca haviam visto o mar, cedo Agostinho teve de abandonar a casa dos pais e ir viver com os seus tios e primos.

A sua tia, de seu nome Xanicomaricapatareca, possuía um monopólio bairrista ao ser dona de um supermercado daqueles à antiga, cuja balança estava viciada para acrescentar peso aos queijos e fiambres e tudo o mais que viesse. As pessoas, já sem um tusto no bolso, viam-se assim depenadas de mais alguns mérreis que tanto jeito lhes podiam dar nomeadamente para coisas.

Agostinho, no meio de todo aquele reboliço em que se revelava a sua vida, havia feito uma promessa a si mesmo: crescer um bigodinho igual ao Saddam e à mau dos filmes de Hollywood. A sua vontade era verdadeiramente possuir um bigode hitleriano, mas a sociedade que ignorara uma chacina de milhões, a fome em África e os álbuns do José Malhoa, fazia agora a dança hipócrita do politicamente correcto, não deixando ninguém possuir um bigode igual ao homem que poderia ter tido a sorte de se chamar Adolfo Schicklgruber.

Mas adiante. Depois de passar anos a gamar ao primo os discos de vinil que ele comprava em feiras insuspeitas, Agostinho decidiu-se pelos negócios. Vendeu, por essas mesmas feiras onde o primo ia, paletes de sabão azul e branco. Certo dia, indignou-se por certas e determinadas coisas e teve uma altercação com um pacote de batatas fritas fora do prazo.

Segundo relataram testemunhas, uma cega e outra invisual, o pacote de batatas aconselhara Agostinho a praticar sexo anal com um rolo da massa. Não era intenção de Agostinho entrar em conflito com o dito pacote de batatas, pois já se sabe que estes são pessoas de muito pouca elevação e honra - que por tudo e por nada lançam impropérios e mandam inclusivé as pessoas para o caralho - mas Agostinho disse-lhe das boas. Constatou que a mãe do senhor era não apenas uma puta sidosa como o seu pai era dono de uma loja de trezentos. Nisto o pacote de batatas entristeceu e foi-se embora.

Após sair da terra natal, Agostinho foi conhecer o mundo - que é como quem diz, foi a Pernes. Várias semanas depois de praticar amor singelo com gado ovino, dedicou-se à apanha da azeitona e aí fez fortuna. Aos trinta e cinco anos já comprara um jornal semanal para onde contratou pessoas sem ética, que se disfarçavam de jornalistas e inventavam notícias em que se denegria a imagem de antigos colegas de escola de Agostinho, que no passado lhe haviam mandado calduços na bicha para o refeitório.

Tinha uma pila pequena, como é apanágio dos homens vingativos, e uma vez até diz que morreu.

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